CNS aponta ameaça a direitos sociais

CNS aponta ameaça a direitos sociais


Publicado em: 31/10/2016 18:07 | Autor: 337

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A Comissão de Financiamento do Conselho Nacional de Saúde apresentou documento em que se posiciona contra a Proposta e apresenta os valores reais na perda de recursos destinados ao SUS caso a PEC seja aprovada da forma que está. Confira na íntegra:

NÃO À PEC 241

POR UMA SOLUÇÃO DAS CONTAS PÚBLICAS QUE RESPEITE OS DIREITOS SOCIAIS

Em junho de 2016, a sociedade brasileira foi surpreendida com o encaminhamento pelo governo federal da PEC 241/2016 à Câmara dos Deputados, que trata do “Novo Regime Fiscal”. Em síntese, essa proposta estabelece um “teto” para as despesas primárias (as financeiras, como juros, continuarão sem nenhum limite) nos níveis pagos em 2016 (corrigidos pela variação anual do IPCA) por um período de 20 anos (2017 a 2036).

Em 04/10/2016, o relator da PEC 241/2016, Deputado Perondi, apresentou texto substitutivo e, para o caso das despesas com saúde, a nova redação estabeleceu um piso diferente daquele fixado pela EC 86/2015 a partir de 2017: 15% da RCL de 2017 de R$ 758,300 bilhões, que resultaria em R$ 113,745 bilhões em 2017; para 2018, esse valor de 2017 seria corrigido pela variação anual do IPCA – base fixa achatada no contexto da recessão dos últimos dois anos que reduziu fortemente a receita pública. Trata-se de um pesado estrangulamento financeiro para o SUS: (i) inviabiliza o aumento dos percentuais de aplicação em ASPS previstos pela PEC 01/2015 já aprovada em primeiro turno na Câmara dos Deputados (seria 19,4% da RCL a partir do 7º ano de vigência; (ii) reduz o piso para ASPS em comparação ao valor estabelecido no PLDO 2017 (despesa empenhada em 2016 corrigida por 7,2% que poderia chegar a R$ 114,6 bilhões); (iii) esse novo piso desvincula a evolução do gasto ao crescimento do PIB nominal e da própria RCL, além de não considerar o crescimento da população e os custos crescentes do setor (magnitude inferior aos valores aplicados nos últimos anos já congelados entre 1,6% e 1,7% do PIB nos últimos anos); (iv) considerando o teto estipulado para o conjunto das despesas primárias, na prática, o piso se tornará de forma impositiva o teto do gasto.

Diferentes cenários de perdas calculadas para 2017 se a PEC 241/2016 for aprovada definindo os recursos do SUS federal em 2017 em R$ 113,7 bilhões:

PERDA DE R$ 5,5 bilhões: considerando que as despesas “competência total” de 2014 (empenhadas em 2014 e empenhadas no início de 2015) corrigidas para 2017 seriam de R$ 119,2 bilhões;

PERDA DE R$ 1,0 bilhão: considerando a regra aprovada no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2017, ou seja, o valor empenhado em 2016 corrigido pela variação do IPCA, que foi definido pelo Ministro Meirelles em entrevista no dia 04 de outubro em 7,2%; considerando que serão empenhados em ASPS pelo Ministério da Saúde em 2016 os R$ 106,9 bilhões que foram disponibilizados no Decreto 8784, o valor de 2017 não poderia ser inferior a R$ 114,6 bilhões;

PERDA DE R$ 5,0 bilhões: considerando que as despesas empenhadas em 2015 corrigidas para 2017 seriam de R$ 118,7 bilhões;

Aprovada a PEC 241/2016, o texto já aprovado do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2017 (PLDO 2017) será revogado pela mudança constitucional, tornando sem efeito a regra aprovada para o próximo ano.

O CNS diz “NÃO” à PEC 241/2016, porque a essência dela é o corte de despesas primárias ao arrepio dos atuais direitos constitucionais para fazer valer o superávit primário nos próximos 20 anos, “corte” este expresso pela lógica da correção dos gastos tão somente pela variação anual do IPCA.

Mais uma vez o CNS denuncia que a mudança constitucional na regra de cálculo da aplicação em ASPS trará perdas para o SUS, mas desta vez muito maiores que antes, inclusive porque o “teto” geral de despesas reduzirá as despesas sociais com sérias implicações para as condições de saúde da população nos próximos 20 anos.

O substitutivo da PEC 241/2016 apresentado pelo relator, Deputado Perondi, representa uma "cortina de fumaça" para encobrir a grande perda bilionária acumulada em 20 anospara o SUS:

PERDA DE R$ 135 bilhões: considerando o cenário retrospectivo, que considera a vigência da PEC 241 no período 2003-2015, portanto, em comparação aos valores efetivamente empenhados nesse período, não teriam sido aplicados no SUS o valor R$ 135 bilhões a preços médios de 2015 (isto é, a perda é muito maior que um ano inteiro empenhado em 2015 e que deverá ser empenhado em 2016; a aplicação apurada nesse período esteve “congelada” em torno de 1,7% do PIB e teria sido reduzida para cerca de 1,1% do PIB no final desse período.

PERDA DE R$ 434 bilhões: considerando o cenário prospectivo apresentado na nota conjunta do CONASS e CONASEMS de 05/10/2016, que considera essa perda no período 2017-2036

Para o governo, o principal problema fiscal do Brasil é a vinculação constitucional, que garante a aplicação mínima para a saúde e educação: além de não ser verdade, representa uma ameaça ao bem-estar das famílias e dos trabalhadores, para priorizar o pagamento de juros e amortização da dívida pública. Afinal, o "teto" de despesas representará a deterioração das condições de vida da população, o que significa deterioração das condições de saúde da população pelo conceito da Organização Mundial de Saúde. É uma ilusão acreditar que alguma mudança na PEC 241/2016 poderá ser benéfica para a seguridade social, assim como não será certamente para a saúde e a educação - essa "fragmentação" inexiste.  Se não lutarmos firmemente contra a aprovação da PEC 241/2016, perderemos os direitos de cidadania pressupostos na Constituição de 1988. É sempre bom lembrar que cerca de 2/3 dos recursos federais do SUS são transferidos para o financiamento das ações de saúde nos Estados, Distrito Federal e nos Municípios. Portanto, haverá uma grave crise geral de financiamento do SUS com a aprovação da PEC 241/2016.

Há alternativas de modo a preservar o interesse da maioria dos duzentos e oito milhões de brasileiros – que teriam seus direitos suprimidos com a aprovação da PEC 241/2016. Por exemplo: rever a renúncia fiscal (gastos tributários), que está projetada acima de R$ 300 bilhões para os próximos anos; rever a legislação do IR, para criar faixas de rendimentos superiores às atuais com alíquotas mais elevadas (de modo a tributar os que estão no topo da pirâmide social); rever a estrutura tributária, para que se reduza a incidência sobre produção e consumo e aumente a incidência sobre patrimônio, renda e riqueza; rever a isenção da tributação das remessas de lucros e dividendos, criar uma tributação sobre as grandes transações financeiras e sobre as grandes fortunas, bem como aumentar a tributação sobre tabaco, álcool, motocicletas entre outras iniciativas possíveis. Da mesma forma, o CNS defende que, conjuntamente, sejam adotadas medidas para aumentar a qualidade do gasto público em geral, e da saúde em particular, com a adoção de mecanismos de gestão mais eficientes que, em última instância, requerem recursos para a modernização tecnológica para esse fim de modo a dar conta de um país com dimensão continental e fortes desigualdades regionais. No caso do SUS, é preciso também garantir que os recursos adicionais sejam destinados para a mudança do modelo de atenção, para que a atenção primária seja a ordenadora do cuidado, e para a valorização dos servidores públicos da saúde, que refletirão na qualidade do atendimento às necessidades de saúde da população.

Desta forma, o CNS entende que a PEC 241/2016, se aprovada, aprofundará a atual política econômica recessiva, gerando desemprego, queda de renda e sucateamento das políticas sociais. Portanto defendemos uma mudança da orientação desta política para a promoção do crescimento e da inclusão social, reforçando o papel dos gastos públicos em saúde para impulsionar o desenvolvimento e para reduzir as desigualdades sociais e regionais.

NÃO À RECESSÃO E AO DESEMPREGO!

NÃO À PEC 241/2016 QUE LEVARÁ AO DESMONTE DO SUS E À REDUÇÃO DE DIREITOS SOCIAIS!

O CNS DEFENDE UMA NOVA POLÍTICA ECONÔMICA E UMA OUTRA FORMA DE SOLUÇÃO DAS CONTAS PÚBLICAS QUE RESPEITE A CONSTITUIÇÃO-CIDADÃ!

(Com informações Diap e CNS)