"Precisamos abrir um diálogo propositivo de compromissos com o setor produtivo brasileiro", defende o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, ao identificar um processo de desmonte na economia nacional. "Estamos destruindo de forma sistemática a nossa estrutura produtiva industrial", afirmou, durante debate realizado com a presença do ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, da pesquisadora da Unicamp Marilane Oliveira Teixeira e dirigentes metalúrgicos ligados a diversas centrais.
Atualmente, diz o diretor técnico, o Brasil passa por um processo de transferência de recursos internacionais para o capital internacional. "Estamos transferindo, a preço barato, recursos e base produtiva", afirma Clemente, para quem um projeto de desenvolvimento deve ter o setor industrial como eixo.
Isso também depende de um Estado presente na economia, acrescenta. "As experiências de sociedades que promoveram o seu desenvolvimento o fizeram com forte capacidade de organização de seu Estado, regulando a atividade econômica e produzindo condições macroeconômicas" e assegurando condições para a indústria competir no cenário internacional e de distribuição de renda.
Não é um debate fácil, admite Clemente, ao observar que as propostas defendidas por Bresser-Pereira, como valorização do câmbio, podem causar perda salarial. Mas é necessário abrir diálogo com o setor empresarial, defende, mesmo sabendo que muitas empresas, hoje, não têm exatamente um "proprietário", mas fundos de investimentos preocupados em garantir o maior retorno no menor prazo possível.
Ele acredita que seria necessário um período de transição para o modelo proposto por Bresser-Pereira, considerando que muitas indústrias estão endividadas em dólar. Mas é preciso pensar em uma "reversão das maluquices que estão sendo feitas agora", referindo-se às políticas do governo Temer. "O Brasil está sendo entregue. Estamos entregando a nossa economia ao mundo. Com essa política em curso, não há desenvolvimento econômico, não há desenvolvimento industrial, muito menos bem-estar social e qualidade de vida", afirma. "O capital financeiro, manda, comanda e desmobiliza."
Sobre a "reforma" trabalhista, que atinge fortemente a organização sindical, ele acredita que, apesar das dificuldades, este pode ser o momento para uma reorganização profunda. "Podemos sair muito mais fortes. Precisamos ter a clareza de que no jogo social a partida não acaba nunca. Não é só um problema de procurar o nosso interlocutor. Temos de reorganizar o trabalho, ou vamos consolidar uma derrota", diz o diretor técnico. "Talvez os trabalhadores nunca tenham tido tanta necessidade de que nós sejamos capazes de construir unidade."
(Fonte: Rede Brasil Atual)