Faltam água e leite para crianças do HGE e sequelas ameaçam pacientes da ortopedia

Faltam água e leite para crianças do HGE e sequelas ameaçam pacientes da ortopedia


Publicado em: 22/01/2016 18:45 | Autor: 337

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Blog do Davi Soares - CadaMinuto

Desde o último fim de semana, pacientes da enfermaria pediátrica do Hospital Geral do Estado (HGE) têm se alimentado com um cardápio inadequado para a recuperação das situações de saúde debilitada. Itens essenciais como carne e leite deixaram de ser servidos. Falta água mineral e até o ovo, elevado a principal item do cardápio da segunda-feira (18), poderá faltar nas refeições desta terça-feira (19).

Mas o caos não se limita à pediatria. A eterna crise do Hospital do Açúcar, o popular Hospital dos Usineiros, resultou na suspensão de cirurgias ortopédicas de pacientes encaminhados pelo HGE. E cerca de 70 pacientes do HGE com fraturas graves tiveram ampliados o risco de agravamento definitivo das lesões, que podem evoluir para deficiências permanentes.

Na enfermaria pediátrica, entre a sexta-feira (15) e o segunda-feira (18), faltou carne para as refeições. E, segundo uma pessoa que atua neste importante setor da saúde pública estadual, no HGE, somente soja foi servida na “mistura” para a refeição de crianças debilitadas, no fim de semana. Para elas, também faltou leite para compor a chamada fórmula infantil, que é uma composição para garantir alimentação mais adequada à idade e à situação da saúde das crianças. E o mais surpreendente é que, até a manhã desta terça, não havia segurança alguma de que sequer poderia ser servido ovo aos pacientes.

Outro setor do HGE, o de ortopedia, também está sofrendo com mais um tipo de descaso talvez ainda mais grave. Segundo outro profissional de saúde, pacientes com traumas ortopédicos, a exemplo de fraturas graves, estariam aguardando cirurgias ortopédicas há cerca de um mês. O motivo seria a greve de médicos do Hospital do Açúcar, que já dura cerca de dois meses. É que, em protesto pelo atraso de quatro meses de salários, médicos suspenderam cirurgias realizadas na “Ala de Retaguarda do HGE”, construída no Hospital do Açúcar com recursos públicos do Ministério da Saúde e mantida com recursos do Estado e Município, para complementar o atendimento de pacientes do HGE.

Segundo denunciante, há cirurgias ortopédicas simples que são realizadas pelo HGE. Mas os casos mais graves, são atendidos no Hospital do Açúcar. A Santa Casa de Misericórdia de Maceió e o Hospital Santa Rita também recebem pacientes para essas cirurgias ortopédicas, em volume menor. Mas o Açúcar faz o maior número dessas cirurgias mais complexas e de emergência. Uma média de cem pacientes por mês são operados no Hospital dos Usineiros.

“Após não cumprirem muitas coisas colocamos no papel, desde novembro estamos sem operar. Isso está sobrecarregando muito o HGE. Pacientes estão ficando amontoados, lá no HGE. O Açúcar parar de operar é uma coisa. Mas o Estado não tomar providências para  operar esses pacientes que estão ficando aleijados dentro do HGE é outra completamente diferente. Tem gente ficando aleijada, dentro do HGE, por falta de cirurgias cujos prazos da prescrição estão se vencendo”, denunciou o profissional da saúde do Hospital do Açucar.

"Não é ovo, como no HGE"

A diretora-médica do Hospital do Açúcar, Marta Celeste, admitiu a suspensão do atendimento da Ala de retaguarda do HGE construída com recursos públicos naquela unidade privada. Mas negou que o problema tenha relação com a manutenção da greve dos médicos do hospital, ao afirmar que suspendeu atendimento para pacientes vindos do HGE devido a um déficit de abastecimento do Hospital do Açúcar. Porém, a diretora-médica admitiu que o Hospital do Açúcar concentrou esforços financeiros para solucionar os atrasos salariais, atualizados até o 13ª salário, exceto para médicos, que têm até quatro meses de salários atrasados. 

Segundo Celeste, o Usineiros mantém 80 leitos de retaguarda do HGE e, nos últimos 60 dias, com a paralisação de funcionários, desabastecimento do hospital e todo o conflito com os funcionários, a direção do Hospital do Açúcar teve que diminuir o número de atendimento a pacientes, porque não tinha como estar ocupando leitos sem poder dar assistência adequada. Com o fim da greve dos funcionários, nesta segunda (18), o Hospital do Açúcar está, agora, retomando o número transferências, informou a diretora-médica.

A direção do Hospital do Açúcar afirma que, até a semana que vem, a unidade estará novamente com os leitos da retaguarda do HGE totalmente ocupados e as cirurgias ortopédicas voltarão a ser feitas. Em seus esclarecimentos, Maria Celeste não perde a oportunidade de provocar sobre a falta de alimentação adequada no HGE.

“Cirurgia ortopédica não é só... Não é tipo uma sutura. Tem que ter cuidados especiais e medicamentos de alto custo. Então a gente está se arrumando para isso. Não é só trazer o paciente para o centro cirúrgico operar. Tem todo um contexto. O Hospital do Açúcar não pode ser responsabilizado pelos 77 pacientes de ortopedia que estão dentro do HGE. A questão da folha de médicos ainda não foi atualizada. Mas isso não significa que seja esse o motivo de não ter paciente aqui do HGE. Isso está mais ligado à chegada de materiais e medicamentos. Porque não é tipo a farmácia da esquina. Os fornecedores são de outros estados. Tem um período para chegar. A gente está aguardando ter o abastecimento suficiente para transferir os pacientes. E nossos pacientes estão comendo frango e carne. Não é ovo, como no HGE. Porque é muito bom falar da casa dos outros e não olhar para o seu umbigo. Aqui eu tenho responsabilidade e só pego paciente que eu possa dar assistência para ele. Se no HGE estão com paciente lá que não tem o que comer, o problema é do HGE”, disparou Marta Celeste.

Sesau reconhece problemas

Sobre a falta de alimentação para os pacientes, o Blog do Davi Soares apurou que o problema foi sanado pelo menos a partir do almoço desta terça. E, por meio de nota, a Secretaria de Saúde do Estado (Sesau) atribuiu as dificuldades ao fechamento do Sistema Integrado de Administração Financeira para Estados e Municípios (SIAFEM).

Leia a nota:

A GERÊNCIA DE LOGÍSTICA DA SESAU INFORMA QUE ESTÁ ATUANDO PARA ASSEGURAR O ABASTECIMENTO CONTÍNUO NO HOSPITAL GERAL DO ESTADO (HGE) E DEMAIS UNIDADES. SALIENTA QUE AGUARDA A REABERTURA DO SISTEMA INTEGRADO DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA PARA ESTADOS E MUNICÍPIOS (SIAFEM), VISANDO EFETIVAR TODOS OS COMPROMISSOS COM FORNECEDORES E ASSEGURAR QUE O ABASTECIMENTO DAS UNIDADES NÃO SOFRA SOLUÇÃO DE CONTINUIDADE.

Sobre os problemas com a transferência de pacientes com traumas ortopédicos, a Sesau encaminhou outra nota em que afirma estar realizando as cirurgias em outras unidades e buscando medidas administrativas para que o Hospital do Açúcar cumpra as metas de atendimento estabelecidas pelo poder público.

Confira o que disse a Sesau em nota:

A SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE (SESAU) INFORMA QUE MANTÉM CONTRATOS COM UNIDADES HOSPITALARES, POR MEIO DO PROGRAMA DE FORTALECIMENTO E MELHORIA DA QUALIDADE DOS HOSPITAIS QUE ATENDEM PELO SUS  (PROHOSP), PARA ASSEGURAR A REALIZAÇÃO DE CIRURGIAS ORTOPÉDICAS EM PACIENTES ATENDIDOS NO HOSPITAL GERAL DO ESTADO (HGE). APENAS NO FIM DA SEMANA PASSADA, 30 PACIENTES FORAM TRANSFERIDOS PARA O HOSPITAL SANTA RITA, PARA SEREM OPERADOS. NESTA TERÇA-FEIRA (19), ESTÃO AGENDADOS MAIS DEZ PROCEDIMENTOS, QUE ESTÃO SENDO REALIZADOS NO PRÓPRIO HGE, DESDE O INÍCIO DO PLANTÃO. 

COM RELAÇÃO AO HOSPITAL DO AÇÚCAR, QUE TAMBÉM É UMA DAS UNIDADES CONTRATUALIZADOS PELA SESAU E QUE RECEBE RECURSOS DO PROHOSP, TODOS OS REPASSES FINANCEIROS ESTÃO ATUALIZADOS. O ÚLTIMO DELES, INCLUSIVE, FOI REALIZADO NA SEMANA PASSADA. POR ISSO, A SESAU ESTÁ ADOTANDO AS MEDIDAS ADMINISTRATIVAS PARA QUE A UNIDADE PASSE CUMPRIR AS METAS PACTUADAS E ATENDA AO NÚMERO DE PACIENTES CONTRATUALIZADOS, SEM PREJUÍZOS AOS USUÁRIOS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS).

Fonte: CadaMinuto